quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Violência no Trânsito: Um Problema Individual ou Uma Questão Social

Por José Nilson Padilha Bueno*

Falar sobre educação para o trânsito, escrever teses sobre comportamento humano, opinar sobre determinadas atitudes de motoristas e pedestres, é como discutir futebol: cada um tem sua opinião. Cada um sabe o que é melhor para si e para os outros, tendo inclusive as soluções dos gargalos e congestionamentos nos deslocamentos da cidade. Porém, grande parte destes argumentos é desenvolvida a partir de uma ótica individual, egoísta e muito particular.
Um dos maiores desafios dos gestores de trânsito, especialmente aqueles que estão empenhados em construir soluções permanentes no que tange o comportamento dos usuários do sistema, é de fazer com que motoristas e pedestres percebam que o espaço “trânsito” é coletivo.
Ao longo de nossa história recente, podemos pegar bons exemplos de como um problema que é do outro, se transforme em uma questão social. Até os anos 80, nada mais natural que matar passarinho ou qualquer outro animal que não fosse de estimação, derrubar grandes extensões de mata nativa, para desenvolver pastagens ou outra atividade agrícola também era coisa normal. No entanto, a partir de uma grande campanha desencadeada por ONGs e que aos poucos se tornou um discurso único de toda a sociedade, mudou-se a forma de pensar, mudou-se a cultura do povo brasileiro no relacionar-se com a natureza. De uma necessidade emergente, criou-se uma solução, que ainda não é definitiva, ampla e completa. Que ainda precisa ficar relembrando que cada um deve fazer a sua parte para se ter um planeta mais limpo e saudável. O resultado é que a nova geração não admite matar um passarinho ou cortar uma árvore só por esporte. Continua sendo um desafio, mas já tem um grande caminho percorrido.
Temos outros exemplos, como o combate as DSTs e o HIV, que a partir de campanhas, se tornaram questões de preocupação de toda a sociedade. No entanto, o comportamento no trânsito, que é a maior causa de morte violenta no mundo, (mais que as guerras ou o tráfico de drogas, segundo a OMS) continua sendo um problema do outro. A sociedade como um todo ainda não se deu conta que ela é à principal vítima desta violência. Os órgãos competentes ainda não encontraram a melhor forma de tocar a população para o fato. Este é o desafio do novo milênio. Transformar os problemas do trânsito em questão social.

*Coordenador da Assessoria de Educação para o Trânsito da EPTC.