Por Eduardo de Souza*
A cena é corriqueira, típica de qualquer centro urbano. Qualquer um pode observá-la facilmente: Um motociclista apressado encurta o seu trajeto fazendo uso da calçada. Não muito distante dali, como um ousado desbravador, um pedestre atravessa a rua entre os veículos. Ele quase é atropelado por um automóvel cujo condutor fala ao celular distraidamente... Mas o que essas pessoas têm em comum? O que há de tão peculiar nesses personagens imaginários? A resposta é simples: Comportamento egocêntrico.
Há uma flagrante cultura de desrespeito às leis em nosso país. No trânsito não é diferente. Aliás, por intermédio dele, pode-se ter uma clara idéia a respeito da nossa noção de cidadania. Como sociedade, de forma geral, temos uma grande dificuldade em lidar com a coletividade. O espaço público é sempre considerado imprevisível e desafiador. Ao fechar a porta de casa, deveríamos deixar do lado de dentro o pensamento individualista e as prerrogativas privilegiadas e retomá-las quando retornássemos da rua. No entanto, o que normalmente ocorre é o contrário, fazemos da rua uma extensão da nossa casa.
O esforço legal é a forma mais rápida de “sensibilizar” os condutores. É sabido que a fiscalização ostensiva certamente inibe muitas práticas delituosas. Ocorre que o número de agentes ainda não é suficiente para atender as demandas da nossa cidade. Uma das razões pelas quais as pessoas agem sem respeitar às leis de trânsito é a provável possibilidade de não serem autuadas. Apenas 10% dos condutores de Porto Alegre já foram autuados. Sim, conforme dados estatísticos oficiais, os infratores do trânsito da nossa cidade são minoria. No entanto, é uma minoria suficiente para causar grandes problemas à circulação viária. Isso sem falar daqueles indivíduos que, a despeito de cometerem infrações reincidentemente, nunca foram flagrados.
Não se pode pensar em quebrar paradigmas inerentes ao comportamento no trânsito sem que haja um trabalho intensificado na esfera da educação. Trata-se de um desafio cujo resultado vem a médio ou longo prazo e de difícil mensuração. É por intermédio da educação que as pessoas tomam consciência da necessidade de haver regras que regulem o comportamento individual nos espaços coletivos, bem como da premência de se multiplicar saberes que preconizem uma cultura de paz no trânsito.
*Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte da Equipe de Educação para Mobilidade da Empresa Pública de Transporte e Circulação - EPTC.