Por Valter Ferreira*
Estamos vivendo numa sociedade imediatista, onde estamos, em muitos casos, escravizados pelos ponteiros dos relógios sociais. Há tempo pré-estipulado para a realização dos mais variados atos; são mensagens subliminares que nos modelam e nos tornam cada vez menos livres para a vida.
Neste contexto de agilidade e pontualidade surge como meio de transporte um veículo pequeno e ágil, que nos promete a rapidez do pensamento no ir e vir de pessoas, produtos e serviços: a motocicleta. Nas últimas duas décadas a motocicleta virou protagonista nas vendas, por se tratar de um veículo barato; se tornou protagonista nas empresas que prometem agilidade de atendimento (alimentação, remédios, manutenção, e uma infinidade de serviços que são realizados por motociclistas profissionais); e se tornou ainda protagonista no trânsito por representar uma parcela muito grande nas vítimas dos acidentes.
Neste sentido se tornou imprescindível que ações em prol dos motociclistas fossem realizadas. Foi neste contexto que em 1998 um grupo de motociclistas resolveu fundar em Porto Alegre o SINDIMOTO – SINDICATO DOS MOTOCICLISTAS PROFISSIONAIS DO RS; com a preocupação de buscar avanços nas mais diversas áreas aos profissionais que sobrevivem do trabalho realizado através das motocicletas.
Nesta década de existência foram muitas as conquistas alcançadas pelos trabalhadores, através de ações do Sindimoto: piso salarial estipulado por Convenção Coletiva de Trabalho, aluguel de moto, seguro de vida; ainda assim a conquista mais importante foi o avanço nas legislações que regulamentam a categoria. Estes avanços são perceptíveis aqui no RS porque contamos com o compromisso do DETRAN/RS e seus colaboradores neste momento de regularização da categoria profissional.
A regulamentação federal dos motociclistas profissionais é o ponto de partida para que possamos mapear os acidentes envolvendo motocicletas e assim poder gerar e implementar uma política pública eficiente para a redução dos mesmos. Temos neste esforço mundial denominado de DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO a oportunidade de tirar do papel ações que foram elaboradas visando à segurança no trânsito. São muitas as áreas que deverão ser contempladas nestas ações, nós do Sindimoto acreditamos que duas delas devem ser os pilares desta nova era: educação e infraestrutura.
A educação é a base de uma sociedade evoluída. Mais a evolução que mais necessitamos é na capacitação dos condutores, na formação eficaz daqueles que conduziram a sociedade rumo ao desenvolvimento. Será necessário repensar o método de habilitação destes condutores e uma reavaliação dos cursos de especialização dos profissionais do trânsito (motociclistas, motoristas, taxistas e etc.), e a criação de treinamentos contínuos para que estes profissionais evoluam conjuntamente com as tecnologias dos veículos que conduzem.
Precisamos ainda criar dispositivos que levem aos pedestres a conscientização de que eles também são responsáveis pela segurança no trânsito, que ainda que não recebam de fato multas e penalização por suas infrações, as mesmas geram riscos que em muitos casos consumam-se em acidentes graves ou fatais.
A infraestrutura das nossas cidades ainda é um desafio que temos que enfrentar, e este enfrentamento não poderá demorar muito. Muitos dos acidentes tem início nas falhas da infraestrutura de nossas cidades e rodovias; recebemos diariamente em nossas ruas um número de veículos que elas não estão aptas a comportar, daí surgem situações que expõe ao risco nossos condutores. É preciso uma reformulação das vias existentes para assim dar vazão ao fluxo de veículos que hoje as cidades possuem.
Porém, podemos dizer com total segurança que o DESAFIO DA DÉCADA é construir a consciência de que todos nós somos partícipes destas soluções, que cada pedestre, ciclista, motociclista e motorista tem sua cota de responsabilidade por um trânsito mais humano e seguro.
*Presidente do Sindimoto