Por ACésarVeiga*
Três horários são mortais,
para quem depende de ônibus em Porto Alegre...
Pela manhã bem cedo,
na hora do almoço,
e no fim da tarde.
E o acontecimento não depende do ponto de vista...
É real em qualquer óptica.
Não sei se a permissão para colocar este número exagerado de passageiros,
em um mesmo ônibus,
dependa do livre arbítrio do motorista...
Ou isso é algo que venha de cima? (não estou falando do céu).
Mas observo que as regras da aritmética,
as que aprendemos na escola,
não correm perigo ali...
Há sem sombras de dúvidas,
mais passageiro do que o limite permitido.
É similar ao andar sobre a navalha...
Só que no citado,
ou você pega o ônibus lotado,
ou não chegará tão cedo ao seu destino.
E creio que você não queira ficar ali parado,
na busca de qualquer evento poético...
Pois certamente
nestes horários,
o que menos você encontrará
será poesia.
Bem, chegou o seu ônibus?...
Se apresse
pois os furões de fila estão por toda a parte.
E por incrível que pareça,
uma pequena quantidade de generosidade por vezes até faz morada...
Mas na imensidão deste ritual o que vale é a famigerada regra:
"Cada um por si e Deus por ninguém!"
E após algumas mexidas,
sacudidas,
e amassar de pés,
e o roçar sutis dos corpos...
Chega-se a roleta.
Neste nicho urbano, assim dizendo,
a demopra tem um apetite prodigioso.
Mas fica aqui o conselho:
-No agora, devemos transformar o problema logístico em uma vantagem conservacionista.
Estacione na paciência e sorria gentilmente a todos...
Mas cuidado,
não tente desta peculiar façanha,
se ela não encontrar origem
nas entranhas do coração.
Um sorriso ao estilo "tibetano" seria muito bem vindo agora!
Confie e acredite que neste momento,
sua principal virtude
estará em se deslocar entre as "filas de cidadãos"...
Estes mesmos "passageiros", que como você,
estão de pé
alotar o corredor.
E não vá arrumar nenhuma animosidade viu?
Encolha seus "pneuzinhos"...
(Estes que você possui na cinturinha),
a vá mantendo aquele sorriso adquirido...
Alegremente vá se infiltrando!
Infiltrando e infiltrando...
Como "tatuíra" na areia.
Lembra?
Mas não se esqueça...
Se possível...
Sim,
se possível,
que seja uma "tatuíra" sorridente.
E que quando na sua "via crucis" particular,
encontrar aqueles "amoráveis" estudantes...
(Aqueles que carregam suas vastas mochilas, parecendo mais um paraquedas do que utensílio educacional)
não se estresse...
Você é do bem
e está curtindo tudo isso numa boa.
Sei que pode ser difícil nas primeiras tentativas,
mas depois você vais adquirindo prática.
E quando notar que o seu ponto de descida está próximo,
é aconselhável estar bem próximo à campainha.
Faça dela o seu foco de vida...
E desta maneira,
você estará pronto para apertar o botão
ou a cordinha que sinaliza a descida.
Suave ou intensamente?
-Bem, tudo dependerá de seu grau de paranoia.
E como este é um omento único...
Desfrute-o!
E assim você chega ao seu destino.
A porta se abre
e você é expelido como "meleca"...
Aquela mesma,
do antigo furúnculo maduro e gorducho.
E aí esta você...
Com saúde,
inteiro,
amarrotado...
Mas pronto para outra empreitada destas.
Viu... Não arrancou grandes pedaços!
E virá o amanhã...
E na parada de ônibus você novamente vai sinalizar...
E "ele" prontamente e gentilmente,
vai "parar" para você...
E assim...
Bem,
a assim você voltará a asufruir de uma boa viagem.
Quem viver verá!
*Químico (vinculado a área de mobilidade urbana com ênfase em poluição e substâncias psicoativas no cotidiano viário).
Participante da Comunidade MITS (Movimentando Ideias por um Trânsito Seguro)
