quarta-feira, 9 de maio de 2012

E Agora?!

O artigo de um jornal de circulação diária em Porto Alegre, fez com que algumas pessoas entrassem em contato conosco pedindo para colocarmos como comentário alguns pontos de vista diferente ao do autor da matéria. Não costumamos reproduzir opiniões dos nossos leitores. Mas achamos interessante abrirmos o tema para discussão e reproduzimos logo abaixo do artigo, algumas delas.

David Coimbra*

04 de maio de 2012

Esse meu amigo meteu- se no pijama de flanela, abriu o tinto de Bento e aboletou- se ao lado da mulher no fundo sofá para ver um filminho inconsequente de sábado à noite.
Queria matar tempo até chegar a hora de buscar a filha na saída de uma festa.
No meio da madrugada, consultou o relógio de pulso, largou a taça na mesinha de centro e foi para o carro de pijama mesmo.
Dirigiu sem pressa, pegou a menina e rodou mansamente de volta ao lar.
Mas no caminho...
havia uma batida da Balada Segura! Cáspite, ele tomara algumas taças de vinho! E agora? Meu amigo imaginou- se detido, arrastado de pijama para a delegacia, a filha soluçando aos berros de“ não levem papai!”, os jornais do dia seguinte noticiando que ele estava dirigindo“ embriagado”, os olhares de condenação e repulsa na segundafeira, a possível demissão do emprego devido ao opróbrio público.
Começou a rezar: “ Protegei- me dos azuizinhos, ó, Senhor”.
E o Todo- Poderoso o bafejou com Sua graça, e desviou a atenção dos azuizinhos para outro carro, e ele passou incólume pela batida.

Ainda assim, o medo que meu amigo tem dos azuizinhos não diminuiu.
Entendo por quê.
Eu mesmo fui enganado por um, outro dia.
Fui ao show do Joe Cocker ali perto do aeroporto.
Ao chegar ao local, um guardador de carros gritou que eu poderia estacionar sobre o canteiro por R$ 20.
Desconfiei, mas um azulzinho estava por perto, assistindo com serenidade aos guardadores cobrando pelo estacionamento de dezenas de carros no mesmo canteiro.
Tudo bem, pensei, olhando para o bravo agente de trânsito.
Engano.
Depois de alguns dias, uma multa de R$ 127 aterrissou na minha caixa de correio.
Ou seja: o objetivo do azulzinho era me multar, não orientar o trânsito.
Nada surpreendente: igual objetivo que eles têm quando se escondem atrás de árvores cem metros depois de um pardal.
Ora, logo depois do controle eletrônico, ninguém vai acelerar o carro a uma velocidade perigosa.
Talvez passe uns 15% do limite.
Então, o azulzinho de campana não tem a intenção de educar ou ajudar: ele pretende multar.

Há muitos agentes de trânsito de campana pela cidade. Eu aqui, na minha ingenuidade, gostaria tanto que o Estado colocasse seus agentes repressivos de campana à noite nos semáforos, onde pessoas são ameaçadas por pistolas, colocadas nos porta- malas de seus carros e sequestradas; gostaria que o Estado colocasse seus agentes repressivos de campana na minha rua, nem que fosse de vez em quando, para que eu não tivesse de pagar segurança privada; gostaria que o Estado colocasse seus agentes repressivos de campana nos bares e restaurantes que são assaltados na Cidade Baixa e no Moinhos de Vento; gostaria que o Estado colocasse seus agentes repressivos de campana nas vilas e bairros pobres da cidade, onde explodem tiroteios nos fins de semana.
Mas, como já disse, isso é muita ingenuidade minha. Os agentes repressivos do Estado estão muito ocupados prestando atenção em mim, em você e no meu amigo de pijama. Nós é que somos perigosos.
Nós somos uma ameaça.

*Jornalista

Comentários:

6 de maio de 2012
Luciana Pereira diz:

É incrível o poder de convencimento que os formadores de opinião têm. Lamento que não utilizem esse poder para realmente promover uma discussão que traga a consciência do bem coletivo. Como muitos já citaram aqui, a questão maior e que atormenta a todos é a multa. Porém não se fala, não de discute o fato gerador da multa. Somos todos bonzinhos e temos sempre uma justificativa para atenuar as nossas falhas. Existe sempre um outro que foi responsável pelo meu erro. Será? Será mesmo que o outro é o responsável pelo meu deslize? Por favor repensem um pouquinho mais as suas atitudes antes de gritar BRAVO Sr. DAVID! Como muitos já explicaram aqui, existe sim uma razão de não se aceitar uma ou duas taças de vinho antes de dirigir, e acredito que o Sr. David, por se tratar de uma pessoa pública e conhecedora das leis, tenha o discernimento necessário para entender isso, porém sempre procura em suas crônicas promover um desserviço quando o assunto é ordem pública no trânsito. Se um familiar ou amigo seu fosse vítima de uma pessoa que tivesse ingerido uma ou duas taças de vinho e estivesse de pijama indo buscar a filha na balada o que o sr. escreveria no dia seguinte em sua coluna? Tenho certeza de que não o estaria defendendo, nem tentando amenizar a situação, que como todos sabem é crítica. Sou uma educadora e trabalho muito a conscientização para um trânsito mais seguro. Você, formador de opinião, deveria fazer o mesmo, e não apenas jogar as palavras que todos querem ouvir, justificativas para atos individuais que repercutem na convivência coletiva.


7 de maio de 2012
Juranês Castro Junior diz:

COMO VOCÊ É PERIGOSO DAVID!

Vamos aos fatos.

1° - Por questão de civilidade, em toda sociedade que se preze, ao conduzir o veículo devemos fazê-lo nas mais perfeitas condições, não utilizando qualquer substância que altere sua percepção. O código de trânsito de forma alguma quer proibir alguém de consumir bebida alcoólica, segundo pesquisa divulgada pela UFRJ, no Brasil, o álcool está presente em 3 de cada 4 vítimas fatais em acidentes de trânsito.

2° - Se existe uma fiscalização é devido ao comportamento equivocado dos usuários da via pública, então conclamo aos seus seguidores terminarmos com a fiscalização de trânsito de um modo bem simples, façamos um pacto de não cometermos mais infrações de trânsito.

3° Por sua descrição, parto do princípio de que não deves estar lembrado, mas, quando fazemos os testes para obter a concessão do Estado para conduzir, nós assinamos no verso – tendo como testemunha o Diretor presidente do DETRAN, que assina junto - comprovando que estamos cientes, por exemplo, de que estacionar sobre canteiro, passeio, faixas de pedestres entre outros é vedado segundo o CTB.

4° Lembrando que conforme o CTB em seu artigo 24 o agente de trânsito, o “azulzinho”, tem competência para fiscalizar o trânsito e não de garantir a segurança pública.
Por fim, quando agimos de forma egoísta escrevendo e publicando aquilo que vende podemos estar criando uma imagem negativa daqueles que fazem cumprir a Lei, agindo muitas vezes como babas de pessoas que deveriam no mínimo cumprir o que está na legislação, e com certeza os leitores que compactuam com seu pensamento. Enfim é mais fácil culpar o terceiro do que se responsabilizar por seus atos.


7 de maio de 2012
Julio Almeida diz:

É Sr. David Coimbra realmente concordo com seus dois últimos parágrafos.
Pessoas como você são realmente perigosas, tornando-se sim, uma grande ameaça a todos.
Inclusive aos seguidores de uma sociedade desorganizada que o Senhor Propõe.
Existindo comportamentos adequados e seguros, a proposição vem de todos nós, da sociedade.
Costumes e normas, não necessariamente precisam ser seguidos, despendendo assim do estado de sociabilização de cada um.
As leis só foram inventadas para que se garantisse a democracia relevante de direitos e deveres a todos os cidadãos.
A educação deveria sempre de começar na família. O que estariam a pensar seus pais que ao longo de sua instrução lhe garantiram bons estudos, a ponto de o senhor, David Coimbra, estar exercendo numa grande emissora, seu trabalho de jornalista. De formador de opinião. Que nesse caso a deforma e, no íntimo de seu ser, contesta os bons costumes e garante a tal essência.
Um abraço e uma volta ao coletivo e não a individualidade de quem a tudo pode.
E o outro que...
Cuidado o outro pode ser você.


07 de maio de 2012
Marcelo Madruga diz:

Sinceramente, não sou fã dos textos escritos pelo Sr. David. Ainda mais quando o foco é trânsito. Textos sobre futebol? Até se tira algo interessante. Mas, quando o assunto é trânsito, falta muito conhecimento e enorme discernimento sobre a problemática de transitar seguramente pelas vias públicas. Não vou discorrer sobre o assunto álcool e direção, pois entendo que as pessoas de mente sã já demonstraram o erro grotesco ao se incentivar tal comportamento. Quanto à indústria da multa, bem colocado pelo Castro Jr., sem infrator, não há infração. Poucos sabem, mas uma pequena parcela de motoristas é multada. A grande maioria, por não haver maior abrangência da fiscalização, não é autuada. Os “azuizinhos” são tão ruins assim? Pergunte às pessoas que já se envolveram em acidentes graves e obtiveram a ajuda destes “agentes repressivos”. Vidas já foram salvas por eles. Muito fácil criticar. Muito difícil reconhecer os nossos erros. Lembro-me da campanha desenvolvida pela RBS (Violência no Trânsito – Isso tem que ter fim) que teve como objetivo reduzir o número de acidentes através, entre outras formas, de frases de impacto de seus colaboradores. Pasmo ao lembrar do Sr. David contribuindo com sua imagem e falando sobre cuidados no trânsito, mas, em sua coluna, apresenta um texto totalmente contra essa ideia. “Faça o quê eu digo, mas não faça o quê faço?”. Em tempo, Sr. David, procure utilizar a faixa de segurança da Érico Veríssimo X Ipiranga. Atravessar em linha reta do posto BR para a ZH implica em cruzar quatro faixas de rolamento, além de dois corredores de ônibus. Assim o senhor, realmente, se torna um perigo.


07 de maio de 2012
André Rabello diz:

COMO VOCÊ É PERIGOSO

Comecei a ler esta coluna por acaso pois não sou grande fã deste colunista, Não é a primeira vez que este formador de opinião defende de forma parcial, o não cumprimento das normas estabelecidas para um deslocamento seguro no espaço público através de veículo automotor. Esta parcialidade me deixa constrangido com a falta de embasamento de algumas opiniões deste “jornalista”. Mas ao me deparar com alguns absurdos proferidos nesta coluna de grande alcance, sabe-se lá porque, não pude conter minha indignação e me propus contrapor alguns de seus impropérios. O primeiro é a defesa de um amigo ou quem quer que seja, que mesmo tendo plena consciência de que iria utilizar seu veículo dentro de alguns instantes, para buscar sua filha em uma festa, pela qual se imagina tenha grande apreço, não conseguiu se abster da ingestão de substância que comprovadamente, independente da quantidade ingerida, traz prejuízos na condução de um veículo, podendo causar acidentes com danos irreparáveis a si e a terceiros.
Um dos grandes problemas de nossa sociedade atualmente é manter viva a máxima – faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Para os outros, os rigores da lei, para meus amigos e para mim, a pessoalização das relações, o jeitinho brasileiro, o “bom senso” de perceber que eu, com algumas taças de vinho, tenho perfeitas condições para conduzir meu veículo na via pública. Se o agente da autoridade não perceber que minha situação é especial, não tem competência para estar nesta função.
Sr. David Coimbra, não duvide da inteligência de seus leitores. Acreditando que o senhor tenha um carteira nacional de habilitação, espera-se que tenha ciência das normas gerais de circulação e conduta, afinal de contas a CNH é uma concessão do Estado aos cidadãos, que ao assinarem atrás de sua habilitação, com o testemunho do diretor geral do DETRAN, que também assina este documento, estão confirmando que conhecem as normas estabelecidas para a circulação no espaço público e se comprometem a cumpri-las integralmente. Saber que é proibido estacionar sobre o canteiro central é sua obrigação, não transfira esta responsabilidade ao agente, que não é pago para avisar a todos os motoristas, um a um, principalmente em dia de espetáculo de grande monta, o que já devem saber. O “flanelinha” está ali para conseguir um dinheiro fácil, não se importa com a repercussão de seus atos, o senhor deveria saber disto. Este é um problema social, não cabe aos agentes de trânsito se indispor com estas pessoas que tomam as ruas e avenidas de toda a cidade em busca de uma “grana fácil”.
Mais uma vez, de forma rasteira, este colunista defende o não cumprimento da legislação. Lembro-me agora da fala de um colega da PRF (polícia rodoviária federal), que afirma que os postos de polícia que ficam nas estradas são o local onde mais anjos se encontram a transitar pelas estradas, pois ali todos transitam em velocidade compatível com a segurança, demonstrando sua civilidade, o que para de ocorrer logo após a passagem pelos postos da polícia rodoviária. Há alguns profissionais chamados engenheiros e eles são responsáveis por estudos que determinam a velocidade máxima que pode ser atingida em cada ponto de uma rua, estrada, avenida ou similar. Não se inventa nada nesta área.Temos leis que cobram seu preço se não forem seguidas e não são burláveis como as leis estabelecidas nos mais diversos códigos criados pelo homem. As leis de que falo são as da física, leis que como já falei, cobrarão um preço alto caso queiramos desafiá-las.
Começando pela sua afirmação final, sim, você, seu amigo de pijama e qualquer um que acredite que pode burlar as normas e sair impune, (que pode ingerir substâncias sejam elas lícitas ou não e conduzir impunimente seu veículo, que independente da quantidade pode transformar seu automóvel em uma arma letal, dado este comprovado por estatísticas que demonstram as principais causas de acidentes), são um grande perigo e devem refletir sobre seus atos egoístas, lembrando que inocentes podem ter modificadas de maneira irreversível suas vidas mediante a irresponsabilidade de seus atos. O espaço público deve ser utilizado de forma harmônica, sempre levando em consideração a fragilidade de nosso corpo e não esquecendo que vivemos em sociedade. Quanto à análise de onde o Estado deve colocar seus agentes repressivos, mais uma vez acredito que brincas com a capacidade de reflexão de seus leitores. Trazes uma questão complexa como a segurança pública e de forma irresponsável a coloca como se esta responsabilidade fosse também dos agentes de trânsito, mostrando mais uma vez sua intenção de denegrir a imagem de pessoas que estão trabalhando diariamente para desconstruir estes conceitos individualistas que moldam nossas relações atualmente, trazendo esta disputa que vemos diariamente nas ruas e avenidas, como um grande espelho de nossas relações sociais. Como formador de opinião, peço que contribuas de alguma forma para melhorarmos esta situação, não mais emitindo opiniões tão parciais, que provavelmente atendem a interesses escusos.