quarta-feira, 25 de abril de 2012

Acidentes de Trânsito - Fatores que Contribuem Para Estas Ocorrências


Por Gabriela Gonchoroski*

Em 2011 mais de 1.300 pessoas perderam a vida devido a acidentes de trânsito, conforme dados divulgados pelo DAER a maioria dos acidentes ocorridos em rodovias estaduais neste mesmo ano ocorreu em finais de semana (contabiliza-se o período compreendido entre as 12h da sexta-feira e às 12h da segunda-feira).

Verifica-se através das estatísticas obtidas pelos órgãos de fiscalização (Empresa Pública de Transporte e Circulação-EPTC, Brigada Militar-BM, Departamento Estadual de Trânsito-DETRAN) que os feriados prolongados são cenários onde a barbárie do trânsito ocorre sem distinção de classe social ou faixa etária.

As rodovias (estaduais e federais) são os locais de maior concentração de acidentes com vítimas fatais. E estes acidentes são resultados de um coquetel mortífero que envolve a sociedade e o poder público.

A omissão do poder público na manutenção e melhoramento das vias é uma constante que pode ser comprovada sem maiores demoras; nossas rodovias em sua imensa maioria estão sem sinalização adequada, em péssimo estado de conservação, sem duplicação em trechos onde o movimento é intenso, construídas sem planejamento ou estudo capaz de possibilitar aos motoristas acostamentos seguros e muitos outros itens que caracterizam condições adversas que requerem dos motoristas, maior atenção e cuidado ao utilizá-las.

Ainda assim a maior parte dos acidentes é ocasionada por imprudência de alguns motoristas. E estas imprudências vão desde uma ultrapassagem forçada até o desrespeito a sinalização e velocidade da via.

O número de acidentes de trânsito aumenta nos feriados prolongados e aos finais de semana dado ao maior número de veículos que tomam conta de nossas rodovias, estradas, avenidas e ruas.

O Brasil está num ritmo acelerado de aumento da sua frota veicular, devido à estabilidade econômica que nos encontramos nos últimos dez anos e pela facilidade ao acesso de financiamento destes bens.

A ação humana é o fator principal do morticínio que o trânsito representa. São os condutores os grandes responsáveis por esta violência crescente.

A ação impensada, violenta, arriscada, imprecisa, imprudente, imperita é causadora de muitos acidentes, sejam eles resultantes do excesso de velocidade, de ultrapassagens proibidas, de desrespeito à sinalização luminosa, de consumo de bebida alcoólica por motoristas, pela falta de uso do cinto de segurança, pelo excesso de carga/lotação.

A falta de ação também causa acidentes: quando deixamos de fazer o que está em nosso alcance para evitar tais acidentes, ações simples como a manutenção de nosso veículo, a revisão preventiva antes de viagens ou mesmo a transmissão de conhecimento e conscientização para aqueles que estão em nossa volta podem gerar consequências irreparáveis.

Os hábitos de uma sociedade refletem nas relações interpessoais de seus cidadãos, desta forma a violência no transito tem origem na cultura social que o Brasil perpetua geração após geração. É o jeitinho brasileiro que se reflete na fiscalização ineficaz dos nossos motoristas e seus veículos, é o nepotismo presente nas indicações políticas de pessoas desqualificadas para cargos onde técnicos deveriam contribuir para Políticas Públicas eficientes e estudos estruturais e de legislações eficazes para o trânsito, é a supremacia do “eu herói” que toma conta da cabeça da nossa juventude, é a intolerância e preconceito de gênero que gera disputas em plenas vias públicas, é a correria do dia a dia que se reflete na falta de atenção e cuidados no transitar das pessoas (pedestres, ciclistas e motoristas), é ainda e principalmente a ideia de que temos mais direitos que deveres que nos torna menos preocupados com os outros que conosco.
O trânsito não mata, infelizmente pessoas sim. Portanto acredito que seja verdadeiro concluir que os acidentes de trânsito são reflexo da sociedade local, de seus hábitos e sua consciência de certo e errado.

Claro que é dever do Estado possibilitar a execução de Políticas Públicas com foco no trânsito, bem como fazer a inclusão dele como tema transversal na grade curricular da educação formal, oportunizando desta forma que a sociedade possa passar por uma transformação gradual que poderá ser medida/mensurada e alguns anos; mais não podemos jogar para o alto esta responsabilidade, pois cada um de nós é responsável por fazer o trânsito mais seguro.

Enquanto a sociedade brasileira não tomar consciência de que o trânsito seguro é dever de todos, ainda estaremos à mercê de motoristas, pedestres e ciclistas imprudentes, sem comprometimento com a segurança e que perpetuam em seus meios sociais a banalização da vida.

*Instrutora de Trânsito e Diretora do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul - SINDIMOTO